Anistia aos Presos de 8 de Janeiro: Um Clamor pela Justiça que a Igreja Não Pode Ignorar



Anistia aos Presos de 8 de Janeiro: Um Clamor por Justiça e Misericórdia

Queridos irmãos e irmãs, o Brasil vive um momento crítico de sua história. Como pastor cristão e advogado atuante desde 1998, hoje jurista, carrego no coração a dor e a indignação diante da injustiça flagrante que se seguiu aos atos de 8 de janeiro de 2023, em Brasília. Naquele dia, milhares de cidadãos – em sua maioria patriotas movidos por desespero e insatisfação – participaram de manifestações que fugiram do controle e culminaram em depredação nos prédios dos Três Poderes. Hoje, porém, vemos pais e mães de família presos injustamente, tratados como criminosos perigosos, sem que seus direitos fundamentais sejam respeitados. Este artigo é um clamor, fundamentado na lei, na Constituição Federal e na Palavra de Deus, por justiça, misericórdia e anistia para esses brasileiros. É um apelo feito com lágrimas nos olhos e esperança no coração, para que não fiquemos calados diante da opressão. Você que lê estas linhas é convidado a refletir profundamente comigo e, quem sabe, juntar-se a esse coro por justiça e libertação.

Contexto dos Atos de 8 de Janeiro e o Clamor por Anistia

No dia 8 de janeiro de 2023, o Brasil assistiu a cenas lamentáveis em Brasília. O que começou como uma manifestação pacífica contra rumos do novo governo terminou, devido à ação inconsequente de alguns, em vandalismo no Congresso Nacional, Palácio do Planalto e Supremo Tribunal Federal (STF). Vidraças quebradas, salas reviradas e patrimônio público danificado – imagens que chocaram a nação. Não defendemos aqui esses excessos; eles devem ser investigados e os responsáveis, punidos na medida de sua conduta, como, aliás, diversas entidades já afirmaram. Entretanto, o que se seguiu extrapolou qualquer senso de justiça. Houve uma resposta estatal desproporcional e marcada por abusos: prisões em massa, encarceramento prolongado sem julgamento definitivo, cerceamento de direitos básicos e tratamento desumano. Homens e mulheres – muitos de perfil pacífico, sem antecedentes, alguns sequer envolvidos nos atos de depredação – foram detidos e mantidos presos preventivamente por meses a fio, sob acusações gravíssimas (como “golpe de Estado”) que nem de longe condizem com suas ações individuais.

Hoje, mais de dois anos após aquele episódio, ainda temos brasileiros atrás das grades ou em prisão domiciliar, esperando justiça. Surgiu, assim, um clamor nacional por Anistia – isto é, o perdão legal e a extinção de punições para aqueles envolvidos nos atos de 8/1 que estão sendo tratados de forma claramente injusta. Essa anistia não significa “passar pano” para erros, mas reconhecer que a reação punitiva saiu dos trilhos, violando princípios jurídicos e ferindo nosso Estado de Direito. Diversos parlamentares, juristas e líderes da sociedade civil, inclusive lideranças cristãs, têm se manifestado a favor dessa medida emergencial de justiça e pacificação. Até uma Proposta de Emenda à Constituição (a “PEC da Anistia”) foi sugerida, contando com apoio de centenas de deputados. Afinal, quantas famílias mais chorarão a ausência de seus entes queridos, presos sem perspectiva, enquanto verdadeiros criminosos andam livres? Como pastor e cidadão, uno minha voz a esse coro: é hora de corrigir o rumo, praticar misericórdia e restaurar a justiça.

Abusos de Poder e Violações Constitucionais pelo STF

Um dos pontos mais preocupantes pós 8 de janeiro foi a postura do Supremo Tribunal Federal, especialmente do ministro Alexandre de Moraes. Atuando ao mesmo tempo como vítima (já que o prédio do STF foi alvo), investigador e julgador, Moraes conduziu inquéritos e mandou prender centenas de manifestantes de forma generalizada. Essa concentração de papéis afronta um princípio basilar de nossa justiça: o juiz natural e imparcial. A Constituição Federal de 1988 consagrou uma série de garantias individuais exatamente para evitar julgamentos de exceção e abusos de poder. Entre os dispositivos violados neste contexto, podemos citar:

  • Devido Processo Legal (CF, art. 5º, LIV): “ninguém será privado da liberdade ou de seus bens sem o devido processo legal.” Esse princípio foi atropelado quando manifestantes foram detidos em massa, sem identificação individual de condutas, e mantidos presos sem a observância plena dos ritos processuais adequados.

  • Ampla Defesa e Contraditório (CF, art. 5º, LV): “aos litigantes, em processo judicial ou administrativo, e aos acusados em geral são assegurados o contraditório e a ampla defesa, com os meios e recursos a ela inerentes.” Na prática, muitos dos presos de 8/1 enfrentaram dificuldades para ter acesso a advogados no início, houve relatos de advogados impedidos de ver seus clientes e de prazos processuais confusos, comprometendo o exercício pleno da defesa.

  • Presunção de Inocência (CF, art. 5º, LVII): “ninguém será considerado culpado até o trânsito em julgado de sentença penal condenatória.” Contudo, desde o primeiro momento pós 8 de janeiro, inúmeras autoridades e parte da grande mídia tacharam todos os detidos como “golpistas”, “terroristas” e “criminosos”, antecipando uma culpa que não fora provada. Muitos continuam presos preventivamente por tempo excessivo, tratados como culpados antes mesmo de julgamento.

  • Dignidade da Pessoa Humana (CF, art. 1º, III): fundamento da República, que implica tratar todo ser humano – inclusive o preso – com dignidade. O que vimos, porém, foram denúncias de condições degradantes na prisão da Papuda e da Colmeia, em Brasília: superlotação, alimentação precária, assistência médica insuficiente e até casos de maus-tratos físicos e psicológicos. Houve relatos de idosos e pessoas doentes que não recebiam cuidado adequado, e de mulheres sendo submetidas a revistas vexatórias – verdadeiras violações à dignidade humana.

Quando todas essas Leis Basilares são desrespeitadas ao mesmo tempo, configuram um preocupante “apagão de garantias” no Brasil. Estão “flexibilizando o que não se podia flexibilizar” – em outras palavras, relativizando direitos que deveriam ser invioláveis. Hoje, parece reinar a ideia de que “a lei sou eu, a Constituição sou eu”, pelo menos é o que se pode traduzir das ações do ministro que conduz esses processos. Essa frase, citada por parlamentares, reflete a atuação arbitrária de algumas autoridades, que ignoram limites constitucionais e agem conforme suas próprias vontades políticas. Vemos assim a terrível inversão: aqueles que deveriam ser guardiões da Constituição se tornam seus algozes.

Um exemplo gritante: muitos manifestantes do 8/1, cidadãos comuns sem cargo público, estão sendo julgados diretamente no STF – instância incomum para pessoas sem foro privilegiado. Isso fere o princípio do juiz natural, já que, em regra, crimes comuns devem ser processados em primeira instância, com direito a recursos em instâncias superiores. Ao centralizar tudo no Supremo, criou-se uma espécie de tribunal de exceção não declarado, algo que nossa Constituição de 1988, marcada pelo anseio de nunca mais vivermos arbítrios autoritários, repudia profundamente. O resultado é que essas pessoas não têm direito a um duplo grau de jurisdição efetivo e são julgadas por ministros que, em certa medida, foram também “vítimas” simbólicas dos atos (pois seus prédios foram alvos) – um claro conflito de interesses.

Some-se a isso as decisões monocráticas duríssimas: censura de perfis nas redes sociais, quebras de sigilo em série, prisões preventivas prolongadas sem reavaliação tempestiva. Em pelo menos um caso trágico, essa demora beirou o imperdoável: o manifestante Cleriston Pereira da Cunha, conhecido como “Clezão”, de 46 anos, morreu no Presídio da Papuda após sofrer um mal súbito, enquanto aguardava a análise de um pedido de liberdade. Detalhe estarrecedor: a própria Procuradoria-Geral da República (PGR) já havia recomendado a soltura dele 80 dias antes de sua morte, pois não via mais motivos para mantê-lo preso. O ministro responsável (Alexandre de Moraes) não decidiu a tempo – e perdemos uma vida. Fontes do Ministério Público classificaram essa demora como “gravíssima”. Clezão era pai de família, deixou esposa e filhas, e sua família clama por justiça até hoje. Sua morte se tornou um símbolo doloroso do que acontece quando o Estado de Direito é suprimido: a injustiça mata. Não podemos permitir que mais vidas sejam destruídas por arbitrariedades.

Exemplos de Injustiçados: do “Clezão” à Mulher do Batom

Para entender a urgência de uma anistia e a necessidade de misericórdia, basta conhecer as histórias humanas por trás dos processos. Tomemos dois casos emblemáticos:

1. O Caso de Cleriston Pereira da Cunha – “Clezão”:
Mencionado acima, Clezão foi preso em 8/1 e acusado de crimes gravíssimos (como “associação criminosa armada” e “golpe de Estado”) sem evidências concretas de que ele tivesse praticado violência ou liderado qualquer ato. Segundo sua defesa, ele não participou de depredações, apenas estava presente na manifestação. Ainda assim, ficou preso preventivamente por meses. Mesmo após o Ministério Público admitir que sua prisão cautelar não se justificava mais, a liberação não veio a tempo. Em 20 de novembro de 2023, Clezão passou mal pela 33ª vez na prisão e morreu, vítima de um ataque cardíaco fulminante na Papuda. Um laudo médico já apontava que ele corria risco de morte devido a problemas de saúde agravados pelas condições da prisão. Esse desfecho trágico poderia ter sido evitado se houvesse agilidade e humanidade. A família de Clezão chora não só sua ausência, mas a injustiça de tê-lo perdido sem sequer vê-lo julgado com justiça. “Foi preso injustamente e morto”, denunciou sua filha em um desabafo comovente. O nome de Clezão ecoa como pergunta: até quando pessoas de bem pagarão com a própria vida a intransigência de nossos tribunais?

2. O Caso de Débora, a “Mulher do Batom”:
Débora Rodrigues dos Santos, cabeleireira e mãe de dois filhos pequenos, foi presa por ter escrito com batom a frase “Perdeu, mané” na estátua da Justiça em frente ao STF durante os eventos de 8 de janeiro. A imagem da estátua pichada correu o mundo – virou símbolo tanto do vandalismo daquele dia quanto, ironicamente, da desproporcionalidade da resposta judicial. Débora não quebrou vidraças, não feriu ninguém; cometeu um ato de depredação simbólica, fácil de limpar, movida pela emoção e, como ela mesmo admitiu depois, um erro do qual se arrepende amargamente. Ainda assim, a cabeleireira foi tratada como uma perigosa golpista. Passou vários meses encarcerada e, posteriormente, em prisão domiciliar, monitorada por tornozeleira eletrônica, vivendo o pesadelo de talvez passar os próximos 14 anos longe de seus filhos.

Sim, você leu certo: catorze anos de prisão. Essa foi a pena que o ministro Alexandre de Moraes votou para condenar Débora. Ele e outro ministro (Flávio Dino) entenderam que Débora cometeu cinco crimes: além de deterioração de patrimônio tombado (pichação da estátua), a acusaram de abolição violenta do Estado de Direito, tentativa de golpe de Estado, dano qualificado e associação criminosa armada. São tipos penais previstos em lei, sem dúvida – a nova Lei de Defesa do Estado Democrático (Lei 14.197/2021) incluiu no Código Penal artigos como o 359-L e o 359-M. No papel, poderiam enquadrar atos do 8/1. Mas pergunto: faz sentido aplicar todos esses tipos simultaneamente a uma única pessoa que, comprovadamente, limitou-se a rabiscar uma estátua com batom? Débora não portava armas, não agrediu autoridades, não liderou milícia – contudo, está sendo tratada como se tivesse tentado derrubar a República sozinha!

A pena recomendada a ela – 14 anos, mais multa de R$ 50 mil e inacreditáveis R$ 30 milhões em indenização coletiva – é tão desproporcional que gerou críticas até de juristas de orientações diversas. Um único ministro (Luiz Fux) pediu vista no processo, sinalizando possível divergência em relação a essa pena exagerada. Graças a isso, o julgamento final de Débora foi temporariamente suspenso e ela pôde ir para prisão domiciliar enquanto aguarda a decisão final. Débora chegou a escrever uma carta ao ministro Moraes pedindo desculpas, expressando vergonha e profundo arrependimento pelo ato impensado. Em suas palavras, “jamais compactuei com atitudes violentas ou ilícitas”. O próprio STF, diante da repercussão, cedeu em parte – mas ainda não a absolveu dessas acusações absolutamente desmedidas. O caso de Débora nos faz questionar: onde está a proporcionalidade da Justiça? Será que escrever uma frase de protesto (ainda que reprovável) merece punição equiparável à dada a homicidas, estupradores ou grandes corruptos?

Esses dois casos – um homem morto aguardando justiça e uma mãe ameaçada de anos de cárcere por um ato não violento – ilustram vividamente por que clamamos por anistia. Eles representam dezenas de outros brasileiros: idosos, jovens, mulheres e homens que foram varridos pela fúria exemplar da Justiça. Pessoas como a artesã que foi presa deixando seus filhos pequenos desamparados, ou o rapaz que nem chegou a entrar nos prédios mas está respondendo processo como se terrorista fosse. Há milhares de vidas em suspenso, marcadas pelo trauma do cárcere indevido e pelo estigma de uma acusação política. Como cristãos, não podemos ouvir essas histórias sem nos compadecer. A Bíblia nos ensina a “chorar com os que choram” – e há muitos lares em pranto no Brasil de hoje, clamando para que Deus toque o coração das autoridades e incline a balança da justiça a favor dos injustiçados.

Dois Pesos e Duas Medidas: Por que a Justiça não é Igual para Todos?

“A lei é para todos”, diz o slogan oficial. Mas a realidade nos mostra que, muitas vezes, dependendo de quem você é ou do grupo ao qual pertence, o tratamento dado pela Justiça brasileira muda drasticamente. Os acontecimentos pós-8 de janeiro escancaram essa verdade incômoda. Enquanto manifestantes de direita estão enfrentando a mão pesada e até arbitrária da lei, vimos, nos últimos anos, diversos casos de crimes muito mais graves sendo tratados com leniência – especialmente quando os acusados pertencem a um certo espectro político ou possuem poder.

O exemplo mais notório é o do atual presidente, Lula. Ele foi condenado em duas instâncias por corrupção passiva e lavagem de dinheiro, em processos com montanhas de evidências (como no caso do famoso tríplex no Guarujá). Sua pena chegou a 12 anos e 1 mês de reclusão. Lula chegou a cumprir 580 dias de prisão efetiva. No entanto, em novembro de 2019, o STF alterou seu entendimento sobre prisão em segunda instância, e Lula – assim como outros condenados na Lava Jato – foi solto, podendo aguardar em liberdade o trânsito em julgado. Posteriormente, em 2021, o mesmo STF anulou as condenações de Lula por questões processuais (entendeu que a vara de Curitiba não era o “juiz natural” para julgá-lo). O mérito dos casos de corrupção jamais foi refutado totalmente, mas graças a essas decisões, Lula recuperou seus direitos políticos e hoje ocupa a Presidência da República.

Veja bem: não contesto aqui o direito de Lula se defender e ter um julgamento justo – todo cidadão merece isso, inclusive ele. O ponto é evidenciar a disparidade. Lula, acusado de delitos de corrupção que lesaram os cofres públicos em milhões, ficou preso menos de dois anos e obteve do STF uma consideração enorme a respeito de suas garantias. Já os manifestantes de 8/1, acusados de delitos contra o patrimônio e a ordem pública, sem o mesmo poder político, estão há mais de dois anos sob punições severas e sofrendo derrotas sucessivas em pedidos básicos de liberdade provisória. Por que as garantias constitucionais valem para uns e não para outros?

Outro exemplo: o ex-governador do Rio de Janeiro, Sérgio Cabral, foi condenado a impressionantes 425 anos de prisão por inúmeros crimes de corrupção – um recorde. Entretanto, após cerca de apenas seis anos efetivamente detido, Cabral foi autorizado pela Justiça a cumprir o restante da pena em casa (prisão domiciliar). Sim, um homem condenado por desviar recursos da saúde, da educação, por chefiar quadrilha no poder, hoje está em casa, enquanto cidadãos que foram às ruas protestar (e que não roubaram um centavo do erário) amargam a cadeia. Onde está a coerência?

Mais um caso revelador: em 6 de junho de 2006, integrantes do MLST (Movimento de Libertação dos Sem Terra), um grupo de esquerda, invadiram e depredaram o Congresso Nacional em Brasília. Armados com foices, paus e pedras, destruíram vidraças, obras de arte e feriram mais de 20 pessoas, inclusive deixando um segurança em estado grave. Na ocasião, cerca de 500 militantes foram presos, e foram acusados de crimes como formação de quadrilha, dano ao patrimônio e lesão corporal. No entanto, sabe o que ocorreu? Com o passar do tempo, os processos se arrastaram até prescreverem na Justiça. O líder do movimento, Bruno Maranhão, não sofreu pena alguma. Muitos dos envolvidos nunca cumpriram pena de prisão após aquelas detenções iniciais. Em suma: a invasão violenta de 2006 acabou sem punições efetivas. Já a invasão de 2023, embora também gravíssima, está levando cidadãos a pegar décadas de prisão, sem direito a atraso ou esquecimento – muito pelo contrário, com julgamentos relâmpago e rigor extremo. Novamente, dois pesos e duas medidas.

Essas comparações não visam minimizar os atos de 8 de janeiro, mas sim pedir coerência e justiça proporcional. Em nosso Código Penal, por exemplo, o crime de homicídio simples tem pena prevista de 6 a 20 anos. Ora, não é absurdo que haja manifestantes de 8/1 condenados a 17 anos de prisão – pena próxima ao máximo de um homicida – por terem participado daquela confusão, sem que nenhuma vida tenha sido perdida no evento? Da mesma forma, vemos pessoas como Débora enfrentando uma pena maior do que muitos estupradores recebem. Isso sem falar em casos de corrupção que drenam recursos vitais e custam indiretamente vidas, cujas punições, quando ocorrem, são brandas ou revertidas.

Então nos questionamos: a quem interessa esse rigor seletivo? Infelizmente, a resposta parece ser: interessa a um projeto de poder que deseja transformar opositores em “exemplo”, em bode expiatório. Estão usando o Judiciário para fins políticos, para instaurar o medo e calar quem ousa pensar diferente. Hoje são os manifestantes pró-direita os alvos; amanhã, pode ser qualquer um que desagrade aqueles que detêm a caneta e a toga.

Fundamentos Bíblicos: O Que Deus Diz sobre Justiça e Opressão

Diante de tudo isso, como devemos responder como cristãos? A Bíblia Sagrada é clara e rica em ensinamentos sobre justiça, misericórdia e o papel das autoridades. Nosso Deus é um Deus de justiça perfeita: “Os fundamentos do Seu trono são justiça e retidão” (Salmo 89:14). Ele nos chama a praticar a justiça em todas as esferas da vida. Não a justiça segundo ideologias humanas, mas a justiça reta, imparcial e compassiva, segundo o caráter de Deus. Vejamos alguns princípios bíblicos que iluminam a situação que vivemos:

1. Deus abomina a injustiça e a condenação do inocente.
Em Provérbios 17:15 está escrito: “A absolvição do perverso e a condenação do justo são abomináveis ao Senhor.” Ou seja, quando culpados são soltos sem punição e inocentes (ou menos culpados) são punidos exageradamente, isso é duplamente detestável aos olhos de Deus. Não há dúvida de que muita gente sendo castigada pelos atos de 8/1 não merece o rótulo de “criminosa violenta” que lhes impuseram, e Deus vê essa injustiça. A Bíblia também adverte: “Ai dos que decretam leis injustas, que escrevem decretos opressivos, para privar os pobres de seus direitos e da justiça…” (Isaías 10:1-2). Quando autoridades usam leis de forma distorcida para oprimir, estão debaixo do “ai” – do juízo – de Deus.

2. Cada um deve responder por seus próprios atos – a individualização da culpa é um princípio bíblico.
Ezequiel 18:20 ensina que “o filho não levará a iniquidade do pai, nem o pai a iniquidade do filho; a justiça do justo ficará sobre ele, e a perversidade do perverso cairá sobre este”. Em outras palavras, não se deve punir um grupo inteiro pelos atos de alguns. Infelizmente, pós-8 de janeiro vimos uma espécie de condenação coletiva: se alguns quebraram vidraças, todos os presentes viraram “golpistas”; se alguns incitaram violência, todos os detidos passaram a ser tratados como conspiradores perigosos. Isso fere não apenas a Constituição (que exige individualização da conduta), mas também o princípio bíblico de justiça. Deus, em Gênesis 18:23-32, estava disposto a poupar Sodoma inteira se nela houvesse 10 justos – tamanha é a importância de não eliminar o inocente junto com o culpado.

3. Deus exige que as autoridades julguem com equidade, sem privilegiar ou perseguir ninguém.
Não torças o juízo, não faças acepção de pessoas, nem aceites suborno...” (Deuteronômio 16:19). Também em Provérbios 24:23-24: “Não é bom ter favoritismo no julgamento. Quem disser ao ímpio: ‘Você é justo’, os povos o maldirão... mas aos que julgarem corretamente haverá delícia”. O Senhor odeia balanças enganosas (Provérbios 20:23). Quando vemos a justiça humana aplicando pesos diferentes conforme a conveniência política – brandura para uns, rigor para outros – podemos ter certeza: isso não agrada a Deus.

4. Misericórdia e justiça andam juntas na ética cristã.
O profeta Miquéias nos lembra do que Deus requer de nós: “que pratiques a justiça, ames a misericórdia e andes humildemente com teu Deus” (Miquéias 6:8). Jesus afirmou que os “bem-aventurados que têm fome e sede de justiça, porque serão fartos” (Mateus 5:6), mas também disse “bem-aventurados os misericordiosos, porque alcançarão misericórdia” (Mateus 5:7). Isso significa que devemos buscar uma justiça equilibrada com compaixão. No caso dos presos de 8 de janeiro, ainda que alguns tenham cometido delitos, pergunto: não é tempo de exercer misericórdia? A punição desproporcional deixa de ser justiça e se torna vingança. A Palavra de Deus nos alerta: “O julgamento será sem misericórdia para quem não foi misericordioso; mas a misericórdia triunfa sobre o julgamento” (Tiago 2:13). Que lição poderosa!

5. Libertar os cativos e oprimidos faz parte da missão que Deus nos dá.
O próprio Jesus, ao iniciar Seu ministério, leu em Isaías: “O Espírito do Senhor está sobre mim, porque... enviou-me a proclamar liberdade aos presos e libertação aos oprimidos” (Lucas 4:18). Claro, Ele falava também de uma dimensão espiritual, mas ao longo da Bíblia vemos o coração de Deus se inclinando aos presos e injustiçados. Em Mateus 25:36-40, Jesus se identifica com os presos: “Estive preso, e foste me visitar... quando fizeste a um destes meus pequeninos irmãos, a mim o fizeste”. Devemos nos importar com quem está no cárcere, principalmente se estiver lá injustamente.

O Silêncio da Igreja e o Dever de se Posicionar

Nesse cenário turbulento, uma questão me incomoda profundamente como pastor: onde está a voz profética da Igreja de Cristo no Brasil? Durante esses últimos dois anos, vimos algumas valorosas lideranças evangélicas se levantarem contra as injustiças – destaco, por exemplo, o pastor Silas Malafaia, que inclusive organizou atos públicos e abaixo-assinados pedindo anistia aos presos do 8/1, mobilizando milhares de pessoas em Brasília. Entidades evangélicas também emitiram notas defendendo que os envolvidos fossem responsabilizados “na medida de sua conduta” e apoiando uma anistia que cesse os exageros punitivos. Essas vozes, contudo, ainda são poucas diante do tamanho do povo evangélico no país.

Muitos pastores e igrejas permanecem em silêncio constrangedor, talvez por medo de polêmica, talvez por alinhamento político-partidário diferente, ou mesmo por não estarem bem informados. Quero dizer claramente: o silêncio da Igreja diante de uma injustiça dessas proporções a torna, sim, cúmplice por omissão. Quando a Igreja cala onde deveria falar, as pedras clamam.

Meus irmãos, a justiça bíblica não é seletiva. Não pode ser guiada por rancor, bandeira ideológica ou preferência política. Muitos desses que hoje sofrem perseguição jurídica desproporcional são nossos irmãos em Cristo. Há relatos de cultos e louvores entoados dentro da Papuda e da Colmeia, onde os detentos oravam e cantavam “Porque Ele vive, posso crer no amanhã”, tentando manter a fé em meio ao vale sombrio.

Como permanecer indiferente sabendo disso? O apóstolo Paulo orienta: “Lembrai-vos dos encarcerados, como se estivésseis presos com eles” (Hebreus 13:3). Essa é a empatia radical que o Evangelho nos pede. Se fosse o seu pai, seu filho ou um irmão de igreja preso injustamente, você não moveria céus e terra por ele? Então por que, quando é o pai ou a filha de outra pessoa, muitas vezes cruzamos os braços?

Quando a igreja institucional se cala, ela falha com sua missão de ser sal da terra e luz do mundo. Lembremo-nos de momentos da História: igrejas alemãs que se calaram diante do nazismo, igrejas que silenciaram durante a escravidão ou o apartheid – depois vieram a lamentar profundamente sua omissão. Não queremos, no futuro, nos envergonhar por não termos feito nada em favor dos perseguidos de hoje.

Conclusão: Um Apelo Pastoral por Justiça, Oração e Ação

Meus amados irmãos, ao longo deste artigo vimos fatos legais, constitucionais e exemplos reais que comprovam a urgência de uma anistia aos presos injustiçados de 8 de janeiro. Vimos também que o próprio coração de Deus clama contra a opressão do inocente e a distorção da justiça. Diante disso, não podemos ficar indiferentes.

Este é um momento de decisão para o Brasil: ou permitiremos que a injustiça continue e criemos feridas sociais ainda mais profundas, ou praticaremos a graça e daremos um passo para curar a nação. Anistiar não é destruir a justiça – ao contrário, é restaurá-la quando ela saiu do curso, principalmente por causa dos fatos acima analisados e que nos saltam aos olhos. Assim como perdoar dívidas no ano do jubileu era uma forma bíblica de dar um novo começo, a anistia agora daria chance de reconciliação e aprendizado.

Faço um apelo pastoral e espiritual: oremos intensamente pelos nossos líderes dos Três Poderes, especialmente pelos ministros do STF, para que Deus toque seus corações. “Como ribeiros de água é o coração do rei na mão do Senhor; ele o inclina para onde quer” (Provérbios 21:1). Deus pode inclinar o coração de Alexandre de Moraes e dos demais ministros para a clemência e o equilíbrio.

Oremos também pelos encarcerados e suas famílias – que o Senhor conforte os abatidos, sustente os fracos e renove a fé dos que choram. Que nas celas haja cânticos de louvor que rompam correntes, como ocorreu com Paulo e Silas (Atos 16:25-26). Orar é a primeira parte da nossa fé ativa.

Em segundo lugar, vamos nos posicionar. Compartilhe este clamor com amigos e familiares. Leve a discussão para seu grupo de igreja, para as redes sociais (de forma respeitosa e embasada). Mostre às autoridades que o povo de Deus se importa, sim, com justiça de verdade. Se achar pertinente, apoie iniciativas legais: abaixo-assinados, manifestações pacíficas, campanhas para pressionar o Congresso a votar uma lei de anistia para o mais breve possível.

Por fim, mantenhamos uma fé ativa e cheia de amor. Nossa esperança não está nos homens, mas em Deus. Ainda que as instituições humanas falhem, cremos no Justo Juiz, aquele diante de quem um dia todos haverão de prestar contas. Mas creio que Ele quer agir já, através de nós, Seus filhos, para que haja transformação imediata.

Anistia já aos presos injustamente do 8 de Janeiro – para a glória de Deus e o bem do Brasil!

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Se você chegou até aqui, é porque, de alguma forma, essa reflexão tocou seu coração. Talvez você também sinta o peso de ver a justiça sendo distorcida e a misericórdia sendo esquecida. E se há algo que aprendemos com a Palavra de Deus é que a justiça verdadeira sempre caminha de mãos dadas com a compaixão.

Por isso, se me permite uma sugestão pessoal, quero te indicar uma leitura que tem o poder de transformar não apenas o seu entendimento, mas o seu modo de viver essa verdade: o livro Ministérios de Misericórdia: O Chamado para a Estrada de Jericó, de Timothy Keller.

Esse livro é muito mais do que uma leitura teológica — ele é um chamado prático para quem deseja ser luz em tempos de trevas, assim como Jesus foi. Tudo o que conversamos até aqui — sobre compaixão, injustiça, ação da Igreja, omissão, responsabilidade — está lá, aprofundado com sabedoria, mas numa linguagem acessível, que abraça. É como se Keller estivesse sentado à mesa com você, conversando com calma, abrindo seus olhos para uma nova forma de servir, entender e se posicionar diante da dor alheia — e isso inclui a dor dos injustiçados que tratamos neste artigo.

Você não vai apenas aprender mais sobre misericórdia. Vai sentir vontade de praticá-la. Vai entender como o seu papel como cristão vai muito além das quatro paredes da igreja — e como isso pode ser libertador.

Se quiser dar esse próximo passo — mais maduro, mais consciente, mais alinhado com o coração de Deus —, essa leitura vai te ajudar. Não é um manual, é um espelho. E talvez, como aconteceu comigo, você descubra que Deus quer usar justamente você como resposta à injustiça.

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E que essa leitura te encontre com o mesmo espírito deste artigo: com fome e sede de justiça — e com o coração disposto a viver o Evangelho por inteiro.

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🙏 Agora que você leu até aqui, quero te convidar a fazer parte desse clamor.
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